terça-feira, 13 de novembro de 2012

"Nem sexo, nem cigarros. Nada preenche o vácuo que a sua voz deixou nas minhas madrugadas. Você foi o inquilino mais bem recebido pelas minhas paredes que, logo após, foram destruídas e humilhadas pela sua força demoníaca. A sua estada no meu peito foi lastimável, cruel e arrasadora. Nunca saberei dizer se sinto alívio ou saudade por ter te visto arrumando suas tralhas roubadas e indo embora, de uma vez, por mandato meu. Provavelmente os dois. Provavelmente mais saudade do que alívio. O alívio foi momentâneo porque você sugava todo o ar da minha casa e eu sempre ia parar em alguma sala de emergência. Agora sinto falta do sufoco. Você foi embora do meu peito mas continua morando no subconsciente. E me enlouquece, me deixa sem saída nenhuma porque eu não sei como te arrancar nos meus fundos. A dispensa e o porão são tão sujos e cheios de ratos, por que você fica aí? Volta pra cá, volta pra parte de verdade, pra carne viva. Eu não tenho casa e você igualmente. Qualquer beco nos abriga juntamente com nosso amor de laboratório. Ou não. (Ou realmente não. Talvez nem o mundo inteiro nos abrigue, nos caiba. Não temos noção do quão poeticamente destruidores e perigosos somos juntos. E por ter consciência dessa falta de consciência é que você não vem. Eu sou a louca, escritora. Você é o poeta observador.) Volta pra cá. Você foi o pior inquilino que eu já tive. E é por isso que eu te amo, ."

Nenhum comentário:

Postar um comentário